Modo lídio dominante x Hexafônica

Uma outra aplicação possível para a escala hexafônica, além do que já vimos, está no acorde Lídio Dominante.

“Puxa vida, agora sim ficou difícil! Não vou entender nada!”. Calma, você vai entender sim, é bem simples.

A escala lídia é o quê? É uma escala maior com quarta aumentada. Se você não sabia disso, basta conferir nos modos gregos; faça essa escala e observe.

Vamos apenas recapitular então. Se a tonalidade é Dó maior, o acorde do quarto grau é F7M e o modo grego utilizado em cima de Fá é o modo lídio. Até aqui, nenhuma novidade.

Se trocarmos essa sétima maior do F7M por uma sétima menor, ficaríamos com o acorde F7. Nesse caso, a escala que utilizamos antes (modo lídio) teria uma alteração no seu sétimo grau (ele deixaria de ser maior e passaria a ser menor). Essa nova escala (lídio com sétima menor) é chamada de escala lídia dominante, pois o acorde resultante passou a ser um acorde com sétima da dominante (F7).

Note que o abaixamento da sétima gerou um trítono, por isso que o acorde ficou dominante.

Muito bem, o grande resultado disso tudo é que, quando o acorde do quarto grau é um acorde dominante, a escala tocada em cima dele possui uma quarta aumentada (oriunda do modo lídio) e uma sétima menor (oriunda da estrutura do dominante), ficando bem parecida com a escala hexafônica!

Na realidade, a única nota que a escala hexafônica possui que não está na escala lídia dominante é o quinto grau aumentado.

Semelhança entre a escala lídia dominante e a escala hexafônica

Compare abaixo a escala de Fá lídio dominante com Fá hexafônica:

  • Notas da escala Fá Lídio Dominante: F, G, A, B, C, D, D#
  • Notas da escala Fá Hexafônica: F, G, A, B, C#, D#

Devido a essa afinidade, concluímos que a escala hexafônica pode ser utilizada em cima de acordes lídios dominantes, como queríamos demonstrar!

Agora vamos continuar esse raciocínio. De onde vêm esse acorde lídio dominante? Em qual contexto ele existe?

Ele está presente no campo harmônico menor melódico. Veja abaixo o campo harmônico menor melódico de Dó:

campo harmonico c menor melodico lidio dominante

Repare como o quarto grau é um acorde maior com sétima! (Ou seja, um lídio dominante). Portanto, o lídio dominante vem do contexto menor melódico. Isso nos leva a concluir algumas coisas. Respire, acalme-se e relaxe. Pronto, podemos continuar.

Já vimos que a escala Fá lídio dominante é o modo que encaixa em cima de F7 quando Fá é o quarto grau da tonalidade. E qual é a escala que deve ser tocada em cima do primeiro grau (Cm7M) nesse caso? É a escala menor melódica de Dó, certo? Afinal esse campo harmônico é todo gerado em cima dessa escala!

Então meu amigo, isso significa que a escala lídia dominante é o quarto modo da escala menor melódica. Em outras palavras, a escala Fá lídia dominante é a escala de Dó menor melódica tocada a partir do seu quarto grau.

Estamos fazendo aqui a mesma coisa que fizemos nos modos gregos, ou seja, estamos tocando uma escala partindo de outros graus além do primeiro. Caso esteja difícil de entender, leia novamente o artigo sobre modos gregos e depois retorne aqui. A ideia vai ficar bem mais clara.

Vamos então comparar as notas das escalas de Dó menor melódica com Fá lídio dominante:

  • Notas da escala de Dó menor melódica:  C, D, Eb, F, G, A, B
  • Notas da escala Fá lídio dominante:   F, G, A, B, C, D, Eb

São exatamente as mesmas notas. Você reparou que a escala de Dó menor melódica está uma quinta acima de Fá? Lembra que ensinamos a utilizar a menor melódica uma quinta acima de acordes dominantes não alterados?

Pois então, está aí uma explicação para isso! F7 é um dominante não alterado, certo?! A moral é a seguinte: ao tocar a escala menor melódica uma quinta acima de um dominante não alterado, estamos fazendo esse dominante soar como se fosse um quarto grau blues (IV7).

Por exemplo, vamos supor que estamos improvisando em cima da cadência:

|Dm7 | G7 | C |

A tonalidade aqui é Dó maior, mas em cima de G7 podemos tocar a escala de Ré menor melódica, como já sabemos. Ao fazermos isso, estamos aproveitando o acorde G7 para “enganar” o ouvinte fazendo-o pensar que G7 é um IV grau blues.

Isso é equivalente a pensar que a tonalidade passou a ser (momentaneamente) Ré menor melódica, onde G7 está atuando como quarto grau IV7 (e não mais como V7 de Dó).

Claro que essa não é a única explicação para podermos utilizar a escala menor melódica uma quinta acima do dominante. Muitos músicos preferem pensar apenas que essa escala de Ré menor melódica gera uma alteração (quarta aumentada) em cima do acorde G7.

Independentemente da explicação que você preferir, o importante é não se restringir a uma única linha de raciocínio, pois às vezes podemos explorar recursos escondidos e gerar sonoridades muito atraentes ao pensar além do senso comum. Nunca bloqueie sua mente quando o assunto for música!

Bom, voltando à ideia de lídio dominante, já que estamos fazendo G7 soar como IV7, podemos experimentar tocar também a hexafônica em cima dele, pois já vimos que há mais afinidade entre a hexafônica e o modo lídio dominante (IV7) do que entre hexafônica e mixolídio dominante (V7).

Resumindo, quando você for aplicar a escala hexafônica em cima de um dominante V7 não alterado, procure misturar no seu solo a escala menor melódica uma quinta acima.

Essa combinação fica muito boa, pois deixa a hexafônica mais atraente! A menor melódica uma quinta acima pode fazer o V7 ter outra função momentânea (IV7), que é mais interessante para a hexafônica.

Na prática, a escala hexafônica realmente não costuma aparecer sozinha, até porque os acordes lídio dominantes (IV7) ou dominantes com quarta aumentada não são tão comuns. Então os músicos de jazz e bossa nova gostam de colocar uma pequena dose de hexafônica misturada com outras coisas (principalmente a menor melódica uma quinta acima), para dar esse tempero que explicamos. Muitos até nem sabem o porquê disso!

Apenas para finalizar, repare que só existem duas escalas hexafônicas possíveis (C e C#); as demais são idênticas a essas, começando de outros graus. Isso é útil de se observar na hora de se fazer um improviso, pois aumenta nosso campo de visão. Em vez de pensar em Sol hexafônica, por exemplo, você pode pensar em Ré# hexafônica, que é idêntica.

Assim, quando você quiser mesclar as escalas de Sol hexafônica e Ré menor melódica, por exemplo, pode pensar em Ré menor melódica e Ré# hexafônica (está mais perto e melhor de se visualizar). Fica a dica!

1.200 palavras depois…

Bom, o assunto aqui foi de fundir os neurônios! Mas o conceito não é tão complicado quando juntamos bem todas as peças. Com um pouco de prática esses conceitos vão sair da cabeça e ir para o sangue!

Podemos garantir que explicações como essa você não vai encontrar em lugar nenhum, mesmo pagando caro por livros e bibliografias extensas. É um enorme prazer para a equipe Descomplicando a Música poder esmiuçar os detalhes e revelar os segredos escondidos por trás de tantos temas teóricos da música.

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Para finalizarmos esse tópico, segue abaixo um exemplo no Guitar Pro de aplicação da hexafônica sobre um acorde dominante alterado.

A base está na tonalidade de Ré menor e é formada pelos acordes:

| Em7(b5) | A7(#5) | Dm7(9)|

Procure criar também as suas ideias e mesclar a hexafônica de Lá com a escala de Ré menor melódica nesse exemplo. Aproveite! Obs: é necessário ter o software Guitar Pro instalado para abrir o arquivo.

Arquivo: escalahexafonica.gpro 

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