Acorde de empréstimo modal

emprestimo modalComo o próprio nome diz, Acorde de Empréstimo Modal (AEM) é um acorde emprestado de outro modo. Esse modo pode ser um modo grego ou o modo homônimo.

Na maior parte das vezes, os AEM são provenientes do modo homônimo. Por esse motivo, muitos autores classificam AEM como somente empréstimo do modo homônimo. Nossa definição aqui, porém, vai ser mais abrangente que isso.

Antes de continuarmos, vamos citar um exemplo de acorde de empréstimo modal: digamos que uma música está na tonalidade de Dó maior. Se, em algum instante da música, aparecer o acorde Eb7M, nós rapidamente identificamos que ele não faz parte do campo harmônico de Dó maior e sim do campo harmônico de Dó menor.

Como Dó menor é o homônimo de Dó maior, concluímos que Eb7M é um AEM do modo homônimo. Os acordes de empréstimo modal são acordes passageiros; eles surgem na música de repente e, logo em seguida, a música já retoma a sua harmonia tonal novamente. É raro aparecer um AEM acompanhado de uma cadência, pois, nesse caso, estaríamos caracterizando uma modulação.

Repare na diferença: as modulações são pequenas transições de tonalidade. Os acordes de empréstimo modal não constituem uma mudança de tonalidade, eles são apenas acordes emprestados e passageiros. Entendido essa diferença, podemos prosseguir.

Opções de acordes de empréstimo modal

Considerando todos os modos, existem muitas opções de AEM para se utilizar nas músicas. Observe abaixo os acordes dos campos harmônicos de todos os modos disponíveis para o tom Dó:

tabela acordes emprestimo modal modos

Do ponto de vista de notas de extensão, é muito comum substituir, no modo homônimo, os graus Im7 e IVm7 por Im6 e IVm6, respectivamente, devido à sonoridade agradável produzida.

É preciso ter atenção também com o acorde Vm7, pois, em alguns casos, ele não é AEM e sim segundo cadencial, proporcionando uma modulação para o quarto grau. Exemplo: Gm7 – C7 – F.

Muito bem, você já deve ter percebido que são muitos detalhes, então você precisa trabalhar em cada um deles com calma.

Agora que o conceito de empréstimo modal já está bem sólido, vamos treinar um pouco a improvisação em cima desses acordes. Depois, vamos analisar algumas músicas que contém AEM para você acreditar que isso realmente existe e é utilizado!

Como improvisar sobre acordes de empréstimo modal

Improvisar em cima dos AEM é simples, basta identificar de onde veio o empréstimo modal e tocar a escala desse modo em cima do acorde. Na teoria é fácil, mas na prática você deve estar imaginando que é difícil, pois precisamos identificar com muita velocidade qual foi o modo emprestado para saber qual tonalidade ou escala utilizar.

Realmente isso é verdade. Por isso que é útil saber quais são os AEM mais utilizados, pois assim você pode decorar esses graus e saber automaticamente o que utilizar nessas situações. Tudo isso vai ajudar a diminuir suas surpresas na hora do improviso e aumentar sua bagagem musical. Quanto mais prática e experiência, mais rápido seu reflexo vai ficar.

Iremos mostrar exemplos desses conceitos todos em videoaulas muito em breve, inscreva-se em nosso canal para não perder.

Vamos começar então trabalhando improvisação em cima de algumas bases do Guitar Pro. Todas elas estão na tonalidade de Dó maior e contêm AEM:

 1) | C7M | Fm7 Bb7 | C7M |

Arquivo: AEM1.gpro (é preciso ter o software Guitar Pro instalado para abrir o arquivo)

No Segundo compasso desse arquivo, podemos usar a escala de Cm, já que Fm7 e Bb7 pertencem ao tom homônimo Cm. Outra opção seria utilizar os recursos que já estudamos para as cadências de II – V, com toda aquela abordagem possível para o dominante, pois Fm7 – Bb7 é uma cadência II-V com resolução deceptiva. Claro que o fato de ser resolução deceptiva requer cautela no retorno do solo para a tonalidade original.

2) | C7M | Dm7 Db7M | C7M |

Arquivo: AEM2.gpro

Aqui nessa base temos, no final do segundo compasso, o acorde Db7M, que é um acorde empresado do modo frígio. Em outras palavras, Db7M é um acorde que existe na tonalidade de Ab maior (ele é IV grau de Ab), onde Dó é terceiro grau (IIIm7) de Ab. Então, podemos utilizar nesse momento a escala de Ab, sua relativa Fm ou, é claro, Dó frígio. Ou ainda, Db lídio, já que ele é IV grau de Ab. Tudo isso é, no fundo, a mesma coisa.

3) | C7M | Abmaj7 Db7| C7M |

Arquivo: AEM3.gpro

Na primeira metade do segundo compasso, podemos utilizar a escala de Cm, pois Abmaj7 é um AEM do modo homônimo, IV grau de Cm. Na segunda metade, podemos utilizar Ab menor melódica, que é a escala menor melódica uma quinta acima de Db7. Obs: Este acorde está atuando como subV7 de G7.

4) | C7M Bb7 | Abmaj7 G7 | C7M |

Arquivo: AEM4.gpro

Aqui, no primeiro compasso, já aparece um AEM (do modo homônimo). Em cima dele podemos utilizar a escala de Cm ou Si bemol mixolídio, pois Bb7 é o quinto grau de Eb (relativa de Cm). Podemos continuar em cima da escala de Cm no segundo compasso devido ao Abmaj7 (que também pertence ao campo de Cm) e, quando vier o acorde G7, podemos tocar a escala de Dó menor harmônica, como se ainda fossemos continuar no modo de Dó menor. Essa é uma ideia bem interessante para essa progressão.

5) | C7M | Fmaj7 Fm6 | C7M |

Arquivo: AEM5.gpro

No segundo compasso dessa progressão, em cima do Fm6 (IVm6), que é um AEM do modo homônimo, podemos utilizar a escala de Fá menor melódica. Se você quiser entender o porquê disso, leia o artigo “Quarto grau menor (IVm6)”.

Além de toda essa abordagem que mostramos, os acordes de empréstimo modal podem também ser precedidos por um dominante.

Por exemplo, nos exercícios anteriores, Ab7M poderia ser antecedido por Eb7 em alguma progressão. Nesse caso, Eb7 não seria um acorde de empréstimo modal, e sim um dominante auxiliar. Agora, cuidado ao querer acrescentar também o segundo cadencial nessa progressão, para tentar formar um II – V – I, pois com essa estrutura já estamos partindo para o lado da modulação e saindo do mundo do empréstimo modal.

Não se esqueça do que falamos lá no início: AEM são acordes que aparecem como intrusos, eles não tem o objetivo de mudar a tonalidade da música, apenas aparecem como efeito surpresa para marcar alguma peculiaridade na melodia.

Veja abaixo alguns exemplos de músicas que utilizam AEM:

  • Meu Erro (Herbert Vianna): tonalidade lá maior. AEM = Dm.

Nessa música em lá maior, temos claramente um único acorde que não faz parte do campo harmônico de Lá: o acorde Dm. Na tonalidade de Lá maior, Ré é o IV grau maior, não menor (IVm). O acorde Dm está presente na tonalidade de Lá menor, portanto Dm é um AEM do modo homônimo.

  • Nos bailes da vida (Milton Nascimento): tonalidade ré maior. AEM = C.

Nessa música em ré maior, o acorde de Dó deveria ser C#m7(b5) (VIIm7b5). Porém, aparece Dó maior na música, atuando como um AEM do modo homônimo, pois ele existe na tonalidade de Ré menor (é o sétimo grau rebaixado bVII). Essa música ainda apresenta outras características interessantes, como cadências II – V – I para a tônica e primeiro grau com notas de passagem. Esta última característica aparece no acorde D4 (onde a quarta é uma nota evitada. O acorde D4 aparece logo antes do acorde D, enfatizando que essa quarta é apenas uma nota de passagem).

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