Substituição do modo grego – rearmonização

A terceira parte de nosso estudo sobre rearmonização vai mostrar como podemos substituir o modo grego de uma música.

O que é substituição do modo grego

Substituir o modo grego é utilizar acordes de outro modo grego no lugar dos acordes originais (ou seja, é mudar a tonalidade da música).

Por exemplo, digamos que uma música esteja na tonalidade de Mi menor (Mi Eólico). Alguns acordes que poderiam fazer parte dessa música são Em, G, Am, Bm, C, etc. Todos pertencentes ao campo harmônico de Mi menor (Mi eólio).

Se trocássemos os acordes dessa música por acordes que pertencem ao campo harmônico de Dó maior, como Em, Dm, F, entre outros, e continuássemos começando a música em Mi menor, esta tonalidade deixaria de ser Mi eólio e passaria a ser Mi frígio, pois Mi estaria atuando nessa harmonia como terceiro grau de Dó. Portanto, estaríamos mudando a tonalidade de Mi menor para Mi frígio.

Como estamos começando em Mi e supondo que Mi é o acorde de resolução da música, dizer que a tonalidade é Mi frígio equivale a dizer que precisamos enfatizar notas de acorde de Mi nas resoluções dos solos, pois a música resolve em Mi.

E como escolher o modo grego para substituir?

Primeiramente, é importante saber que podemos escolher qualquer modo grego, desde que a melodia permita. Agora estamos entrando de vez nessa questão de analisar a melodia. Isso ficará fácil de entender ao vermos o exemplo a seguir, ainda na música “Atirei o pau no gato”.

As notas da melodia inicial dessa música são: G, F, E, D, conforme você pode ver no arquivo do Guitar Pro que mostramos anteriormente.

Já que a melodia inicial gira em torno de G (analise o primeiro e segundo compassos para conferir), podemos começar a música com qualquer acorde que contenha a nota G como nota de acorde. Esse conceito é novo e extremamente importante para trabalharmos rearmonização.

Guarde bem isso: os acordes que formam uma melodia precisam conter em si as notas dessa melodia. Isso pode parecer meio óbvio, mas não é, pois abre possibilidades surpreendentes, como veremos em breve.

Nossa música começa assim:

C
Atirei o pau no gato – to

Já que queremos mudar o modo grego, vamos escolher o modo mixolídio para testar a teoria. A tonalidade dessa música vai deixar então de ser Dó jônico e vai passar a ser Dó mixolídio. Em outras palavras, os acordes passarão a pertencer ao campo harmônico de Fá maior, e Dó será, portanto, o quinto grau (V7) desse campo.

Assim, começamos com:

C7
Atirei o pau no gato – to

Podemos fazer isso? Podemos, pois a melodia desse trecho está na nota Sol, e Sol pertence ao acorde C7 (é a quinta de C7). Então vamos prosseguir. Podemos pensar em colocar o acorde de Fá logo em seguida para fechar uma cadência V – I  (C7 – F), assim:

C7                     F
Atirei o pau no gato – to

Mas temos um problema aí! A melodia nesse trecho ainda está em Sol, e o acorde de Fá não possui a nota Sol! Como vamos contornar esse problema? Bom, podemos acrescentar a extensão 9ª ao acorde de Fá (pois a nona de Fá é a nota Sol). Legal, então ficamos com:

C7                  Fadd9
Atirei o pau no gato – to

*Acorde Fadd9:

Fadd9

acorde Fadd9 teclado

A melodia do próximo trecho “Mas o gato-to…” está na nota Fá. Podemos pensar em colocar o acorde Bb aqui (pois a nota Fá é a quinta justa de Bb. Além disso, Bb pertence ao campo harmônico de Fá maior, conforme queremos). Resultado:

C7               Fadd9
Atirei o pau no gato – to

         Bb 

Mas o gato – to

A melodia agora vai para a nota Mi em “não morreu-reu-reu”. O acorde F7M contém a nota Mi (é a sétima maior de Fá). Então é uma boa pedida fazer:

C7               Fadd9
Atirei o pau no gato – to

       Bb

Mas o gato – to

        F7M

Não Morreu – reu – reu

 Não precisamos substituir o próximo acorde, que é Dm7, pois Dm7 pertence ao campo de Fá maior e a melodia nesse trecho está em Lá (que é a quinta justa de Ré). Então ficamos com:

       F7M

Não Morreu – reu – reu

       Dm7

Dona Chica – ca

A melodia agora vai para Sol no trecho “Admirou-se-se…”. Podemos colocar o acorde Am7, que pertence ao campo de Fá e contém a nota Sol na sua estrutura (Sol é a sétima menor de Lá).

      F7M

Não Morreu – reu – reu

       Dm7

Dona Chica – ca

     Am7

Admirou-se – se

No próximo trecho (“do berro…”), a melodia vai para a nota Sol, então nada impede que coloquemos o acorde Gm (que também pertence ao campo de Fá maior).

     Dm7 

Dona Chica – ca

     Am7

Admirou-se – se

     Gm

Do berro

Pronto, agora a música termina com a nota Dó. Então vamos finalizar com o acorde Fadd9, pois a nota Dó é a quinta justa de Fadd9.

Nossa rearmonização final ficou:

C7                Fadd9   

Atirei o pau no gato – to

       Bb

Mas o gato – to

        F7M

Não Morreu – reu – reu

        Dm7 

Dona Chica – ca

      Am7

Admirou-se – se

      Gm

Do berro

                      Fadd9

Do berro que o gato deu: Miau !

Ouça: rearmonização3.gpro

Repare que conseguimos rearmonizar essa música mudando o modo grego de Dó jônico para Dó mixolídio. Poderíamos tentar fazer o mesmo para outros modos; porém, é necessário avaliar se a melodia permitiria isso.

Não poderíamos pensar, por exemplo, em transformar essa música para Dó dórico, frígio, eólio nem lócrio, pois nesses modos o Dó é menor (possui uma terça menor), sendo que a melodia está passando pela nota Mi, que é a terça maior de Dó. Reparou como é importante pensar sempre na melodia?

É nesse ponto que o músico começa a entender a raiz da coisa, que os acordes só existem para acompanhar uma melodia principal. Tudo gira em torno disso!

Muito bem, continuaremos nosso estudo na parte 4 (modulações e acordes de empréstimo modal)!

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